O que é validade dos testes psicológicos?
Truman Lee Kelley foi um pesquisador norte-americano que contribuiu de formas importantes para a estatística e a psicologia. Em 1927, Kelley formulou o conceito inicial de validade dos testes psicológicos, que se refere ao grau em que um teste mede aquilo a que se propõe.
Uma definição atual (e mais exata) de validade dos testes psicológicos é: o grau em que as interpretações propostas para os escores de um teste encontram respaldo em evidências cientificas sólidas.
A validade de um teste não é um parâmetro dicotômico (tem validade vs. não tem validade). Ao invés disso, trata-se de um atributo contínuo, que depende da quantidade e da qualidade das evidências que a suportam.
Qual é a importância da validade dos testes psicológicos?
A validade é a questão mais relevante de um teste. Isso ocorre porque é a validade que dá sentido às pontuações e demonstra até que ponto uma medida representa a variável a que se destina. Em outras palavras, as evidências de validade indicam a utilidade do teste.
Os pesquisadores estabelecem a validade em relação ao propósito específico do teste. Por exemplo, ao decidir medir a inteligência de uma amostra de alunos, um pesquisador precisa escolher medidas apropriadas. Algumas variáveis, como a força física, não possuem qualquer conexão natural com a inteligência. Assim, um teste de força física, como contar quantas flexões um aluno consegue fazer, não mediria adequadamente a inteligência, tornando-se inválido para esse fim.
Devemos compreender a validade de testes psicológicos de maneira contextual, aplicável a grupos específicos. Esses grupos são chamados de grupos de referência. Assim, é possível que um determinado teste seja válido para um grupo, mas não para outros.
Por exemplo, suponha que desenvolvemos um teste de solução de problemas, que visa prever o desempenho de professores de educação básica de uma escola. Embora o teste possa ser útil para prever o desempenho de professores, é possível que ele não seja capaz de fazer previsões válidas sobre o desempenho de funcionários administrativos dessa mesma escola.
Um teste é mais (ou menos) válido segundo as evidências encontradas. A validação consiste no processo, idealmente contínuo, de levantamento de evidências de validade de um teste. Cabe ressaltar que existem diversos modos de buscar evidências de validade de testes psicológicos, isto é, existem diversas fontes de evidências de validade.
Saiba mais: Dados normativos: o que são escores percentílicos e escores padronizados?
Quais são os tipos de validade dos testes psicológicos?
Na visão clássica de Cronbach e Meehl (1955), as técnicas para atestar a validade de um instrumento se reduzem a três grandes classes, a saber, a validade de conteúdo, a validade de construto e a validade de critério. A essa proposição, deu-se o nome de modelo tripartite.
Na visão atual, de acordo com o Standards for Educational and Psychological Testing (AERA, APA, & NCME, 2014), a validade refere-se ao “grau em que todas as evidências acumuladas corroboram a interpretação pretendida dos escores de um teste”.
Assim, a validade envolve o acúmulo de evidências de validade com o intuito de prover uma base cientifica para as interpretações dos resultados dos testes. E, embora possamos utilizar diversos tipos de evidências, não temos diferentes tipos de validade. A fontes de evidências podem iluminar os diferentes aspectos da validade, mas não representam tipos de validade qualitativamente distintos.
Como saber se um teste psicológico é válido?
Os testes psicológicos podem ser utilizados como instrumentos em avaliações psicológicas e em pesquisas. Em ambos os casos, recomenda-se o uso de testes que apresentem evidências de validade. Esta exigência torna-se ainda mais rigorosa quando os testes integram uma das etapas do processo de avaliação psicológica.
Os testes desenvolvidos para fins de avaliação psicológica devem vir com relatórios sobre evidências de validade, incluindo explicações detalhadas de como os estudos de validação foram conduzidos e os grupos de referência usados.
Os testes desenvolvidos para fins de avaliação psicológica devem conter manuais de instruções com informações sobre as respectivas evidências de validade, incluindo explicações detalhadas sobre os estudos de validação e amostra, e outros aspectos importantes. Já nos casos de testes desenvolvidos para fins de pesquisa, apesar de nem todos possuírem manuais de instruções, recomenda-se ponderar a validade por meio de prévia análise as propriedades psicométricas encontradas em estudos anteriores e suas respectivas amostras.
Com essas informações, uma pessoa pode determinar se o teste é apropriado para o tipo específico de pessoas que deseja testar, também denominado de população-alvo ou grupo-alvo.
O grupo-alvo e os grupos de referência não precisam corresponder em todos os fatores, mas devem ser suficientemente semelhantes para que o teste produza pontuações que tenham sentido para o seu grupo.
Por exemplo, um teste de habilidade de escrita desenvolvido para alunos do último ano da faculdade pode ser apropriado para medir a habilidade de escrita de profissionais graduados, mesmo que esses grupos não tenham características idênticas.
Ao determinar a adequação de um teste para seus grupos-alvo, podemos considerar fatores como ocupação, nível de leitura, diferenças culturais, barreiras linguísticas etc.
Veja também: O que é validade de construto?
Conclusão
Neste post, falamos sobre o importante tópico da validade dos testes psicológicos, fundamental para quem realiza pesquisas científicas usando instrumentos psicométricos, bem como para aqueles que fazem uso de tais instrumentos na prática profissional.
É importante lembrar que cada usuário de testes tem a responsabilidade de se assegurar que os testes que estão sendo utilizados apresentam evidências de validade adequadas para os propósitos aos quais a medida está sendo utilizada.
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Referência
American Educational Research Association, American Psychological Association, & National Council on Measurement in Education. (2014). Standards for educational and psychological testing. American Educational Research Association.
Cronbach, L. J., & Meehl, P. E. (1955). Construct validity in psychological tests. Psychological Bulletin, 52(4), 281–302. https://doi.org/10.1037/h0040957
Como citar este post
Damásio, B. (2025, 19 de março). Validade dos testes psicológicos. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/validade-dos-testes-psicologicos/
Respostas de 3
Olá, tudo bem?
Se levarmos em consideração o que traz o o Standards for Educational and Psychological Testing, para dizer que um teste tem as evidências de validade, eu preciso demonstrar cada um dos 5 tipos de validade propostos por eles?
Desde já grata!
Validade é uma questão de grau, Mônica. Quanto mais, melhor. Sempre. Então busque sempre ter o maior número possível. Em geral, a validade consequencial é mais uma discussão ética do que empírica, então, é dificil ver estdos ‘testando’ esse tipo, em específico, ok?
Trabalho com avaliações e utilizo bastante testes, estou sempre pesquisando validade e qual o melhor aprovado.