Se você é profissional ou estudante da área da saúde e busca fundamentar sua prática em evidências científicas, este post é para você. Nele, falaremos sobre a Physiotherapy Evidence Database (PEDro), uma ferramenta essencial para a prática baseada em evidências na fisioterapia.
Primeiramente, explicaremos o que é a base de dados PEDro e como ela surgiu. Em seguida, mostraremos como fazer buscas eficientes na plataforma. Depois, abordaremos a Escala PEDro e seu uso na avaliação da qualidade metodológica de estudos. Por fim, apresentaremos os critérios utilizados para selecionar os estudos incluídos na base.
O que é a Physiotherapy Evidence Database (PEDro)?
A Physiotherapy Evidence Database (PEDro) foi criada em 1999 por fisioterapeutas do Centre for Evidence-Based Physiotherapy da Universidade de Sydney, a fim de apoiar a prática clínica baseada em evidências. Atualmente, a Musculoskeletal Health Sydney gerencia a PEDro.
A PEDro oferece acesso gratuito a uma vasta coleção de estudos sobre intervenções fisioterapêuticas. Com aproximadamente 19.000 registros, incluindo ensaios clínicos randomizados, revisões sistemáticas e diretrizes clínicas, mais de 80 países usam a plataforma. São mais de 4.300 buscas diárias, o que demonstra sua relevância internacional.
Além disso, a base se destaca por empregar a Escala PEDro na avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos, oferecendo assim uma filtragem robusta para quem busca evidências confiáveis.
Como realizar buscas na Physiotherapy Evidence Database?
A Physiotherapy Evidence Database oferece duas formas principais de busca, a saber, a simples (simple search) e a avançada (advanced search). Contudo, ambas estão disponíveis apenas em inglês, o que é importante considerar antes de iniciar sua pesquisa.
A busca simples é bastante direta: você insere um ou mais termos em um único campo. Desse modo, ela é ideal para quando se busca algo mais geral ou quando se tem pouco tempo. Por outro lado, a busca avançada possui mais detalhes, oferecendo filtros por tipo de intervenção, tipo de estudo, área anatômica, subdisciplina e outros critérios.
Por exemplo, ao selecionar a opção “simple search” no site da PEDro, o usuário encontra um campo para inserir termos específicos. O sistema retorna artigos que contenham todos os termos inseridos, tornando assim a busca mais precisa.
Para quem está começando, há diversos tutoriais disponíveis. Moseley et al. (2020) destacam que a PEDro oferece vídeos explicativos, inclusive em português, disponíveis em seu canal no YouTube. Esses vídeos ensinam desde a formulação de perguntas clínicas até a realização de buscas complexas.
O que é a Escala PEDro?
A Escala PEDro (Figura 1) é uma ferramenta desenvolvida a fim de avaliar a qualidade metodológica de ensaios clínicos randomizados. Criada pelo Institute for Musculoskeletal Health da Universidade de Sydney, essa escala foi inicialmente voltada à fisioterapia, mas rapidamente ganhou espaço em outras áreas da saúde.
Ela apresenta boas propriedades psicométricas, tanto na versão original quanto na tradução brasileira. Além disso, ela permite diferenciar estudos de alta e baixa qualidade metodológica. A escala consiste de 11 critérios. No entanto, consideramos apenas os critérios 2 a 11 na pontuação final, que varia de 0 a 10 pontos. O primeiro critério se relaciona à validade externa e, por isso, não o incluímos no escore total.
Critérios da Escala PEDro
Veja a seguir os 11 critérios da Escala PEDro:
- Elegibilidade: o estudo deve descrever a origem dos participantes e os critérios usados para inclusão no ensaio.
- Randomização: os participantes devem ter sido designados aleatoriamente aos grupos, com relato adequado deste procedimento.
- Alocação secreta: o membro da equipe de pesquisa que fez a designação aleatória não tem conhecimento sobre a alocação dos participantes.
- Grupos semelhantes no início: os grupos devem ser comparáveis em pelo menos uma medida de gravidade da condição e uma medida de desfecho principal, antes da intervenção.
- Cegamento dos participantes: os participantes não devem saber a qual grupo pertencem.
- Cegamento dos terapeutas: os profissionais que aplicam a intervenção não devem saber a que grupo o participante pertence.
- Cegamento dos avaliadores: quem avalia os desfechos também deve estar cego à alocação dos participantes.
- Medidas de desfecho obtidas de mais de 85% dos participantes: deve-se coletar dados da maioria dos participantes iniciais.
- Análise por intenção de tratar: devemos analisar os dados conforme a designação inicial dos participantes aos grupos, mesmo que alguns não tenham concluído a intervenção.
- Comparação estatística entre grupos: o estudo deve apresentar comparações estatísticas claras entre os grupos experimentais e controle.
- Medidas de variabilidade e estimativas de efeito: deve-se reportar medidas de dispersão (e.g., desvio-padrão ou intervalo de confiança) e de tamanho de efeito (e.g., diferenças médias ou razões de risco).
Importante: apenas informações explicitamente descritas no artigo são consideradas. Em caso de dúvidas na interpretação, o critério é marcado como “não”. Por exemplo, se o estudo afirma que é “duplo-cego”, mas não especifica quem foi cegado, ele não receberá ponto para os itens 5, 6 e 7.
Esse rigor na aplicação da escala assegura que apenas estudos metodologicamente sólidos obtenham pontuação elevada, promovendo uma prática clínica baseada em evidências de qualidade.
Critérios para inclusão de estudos na Physiotherapy Evidence Database
A Physiotherapy Evidence Database inclui três tipos de estudos, a saber, ensaios clínicos randomizados, revisões sistemáticas e diretrizes clínicas. Em seguida, apresentamos os rigorosos critérios para inclusão de cada tipo de estudo.
Inclusão de ensaios clínicos randomizados na Physiotherapy Evidence Database
Dvemos incluir um ensaio clínico randomizado na PEDro apenas se ele atender aos seguintes critérios (Shiwa et al., 2011):
- Comparar ao menos duas intervenções terapêuticas.
- Incluir pelo menos uma intervenção aplicável à fisioterapia.
- Utilizar participantes humanos representativos da população clínica.
- Fazer designação aleatória (ou com a intenção de ser aleatória).
- Estar publicado integralmente em periódico revisado por pares.
Além disso, três revisores independentes avaliam todos os ensaios clínicos randomizados utilizando a Escala PEDro, a fim de julgar a qualidade metodológica desses estudos.
Veja também: O que é ensaio clínico randomizado?
Inclusão de revisões sistemáticas na Physiotherapy Evidence Database
Por outro lado, a inclusão de revisões sistemáticas devem atender aos seguintes critérios:
- Ser revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados.
- Conter seção de Método e incluir ao menos um estudo que atenda aos critérios de inclusão de ensaios clínicos randomizados da PEDro.
Inclusão de diretrizes clínicas na Physiotherapy Evidence Database
Por fim, as diretrizes para práticas clínicas devem atender aos seis critérios a seguir:
- Origem institucional: devem ser desenvolvidas por associações especializadas como, por exemplo, sociedades profissionais, órgãos governamentais ou instituições de saúde. Em contrapartida, diretrizes feitas por indivíduos sem vínculo institucional não são aceitas.
- Disponibilidade pública: o conteúdo precisa estar acessível ao público.
- Base científica atualizada: a fundamentação deve vir de artigos revisados por pares ou de uma revisão sistemática publicada nos quatro anos anteriores.
- Inclusão de ensaio clínico randomizado: é necessário conter ao menos um ensaio clínico randomizado relevante à fisioterapia.
- Recomendações estruturadas: devem apresentar orientações claras e fundamentadas, a fim de auxiliar na tomada de decisão clínica.
- Relevância fisioterapêutica: pelo menos uma recomendação precisa abordar uma intervenção da fisioterapia, quer atual ou potencial.
Esses critérios garantem que apenas conteúdos de alta qualidade entrem para a PEDro, mantendo assim a confiabilidade da base.
Conclusão
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Referências
Herbert, R., Moseley, A., & Sherrington, C. (1998). PEDro: A database of randomised controlled trials in physiotherapy. Health Information Management, 28(4), 186–188. https://doi.org/10.1177/183335839902800410
Moseley, A., Elkins, R., Van der Wees, P., & Pinheiro, M. (2020). Using research to guide practice: The Physiotherapy Evidence Database (PEDro). Brazilian Journal of Physical Therapy, 24(5), 384–391. https://doi.org/10.1016/j.bjpt.2019.11.002
Shiwa, S. R., Costa, L. O. P., Moser, A. D. L., Aguiar, I. C., & Oliveira, L. V. F. (2011). PEDro: A base de dados de evidências em fisioterapia. Fisioterapia em Movimento, 24(3), 523–533. https://doi.org/10.1590/S0103-51502011000300017
Como citar este post
França, A. (2025, 5 de junho). Um guia completo sobre a PEDro: Physiotherapy Evidence Database. Blog Psicometria Online. https://www.blog.psicometriaonline.com.br/um-guia-completo-sobre-a-pedro-physiotherapy-evidence-database/